O MAGO DAS SEIS
Os ponteiros marcam no relógio o início da noite. Os sinos lá no alto do campanário badalam. As donas de casa param com o corte artesanal dos legumes. Chegou o momento de agradecer, pedir, consagrar o horário das 18h00. Dez minutos depois, assim que a Virgem se despede, a TV é ligada pelas Marias. E a emoção pega fogo com as tramas de um grande autor.
Quem não lembra do sanduíche de coração de PÃO-PÃO BEIJO-BEIJO? Ou do Pardal de Tony Ramos em LIVRE PARA VOAR?
Foto by: Júnior Sousa
Proseando com maestria os causos dos campos longínquos de um Brasil contagiante, existe um dramaturgo que marcou durante todos esses anos a tela da Globo assim que a estrela Dalva apontava nos céus: Walter Negrão.
Foto by: Camilla Campelo
Está registrado! Negrão é sim o guru das seis! E para celebrar os momentos mágicos da vida do homem de ARAGUAIA, FERA RADICAL e tantas outras, o "Cenas de um Autor", projeto do Instituto Montenegro e Raman, apresentou na última segunda-feira (20/06/2011) um encontro com o mestre.
Foto by: Júnior Sousa
Não só a Dalva, mas uma gama de estrelas compareceu no encontro que durou cerca de uma hora e meia. Thaís Garayp, Cinara Leal, Mariza Marchetti, Herson Capri, Gabriel Canella, Carlo Porto, Fausto Galvão, Alessandro Marson, entre outros.
Negrão recordou grandes sucessos como O PRIMEIRO AMOR, trama precursora na inserção de merchandising direto, dentro da própria novela. A bicicleta Caloi dividia espaço com Rosamaria Murtinho, Paulo José, Leonardo Villar, entre outros. O ano era 1972.
CAVALO DE AÇO também foi mencionada. Única novela de Negrão no horário nobre. A risada tomou conta do Solar de Botafogo quando o autor mencionou que o nome da trama rendeu marca de sapato e até logo de padaria.
Foto by: Júnior Sousa
Glória Magadan, Janete Clair, Ivani Ribeiro, entre outros foram exaltados e os aplausos vieram pouco antes do buquê de flores entregue pelo entrevistador e ator Raphael Viana.
A simpatia foi a marca do autor durante todo o encontro, mas a ousadia e o melodrama ficaram por conta de BETO ROCKFELLER e O DIREITO DE NASCER. Nenhuma escrita por Negrão, mas que ele fez questão de mencionar para que os jovens entendessem a linha tênue que existiu entre uma trama e a outra.
O papo foi tão interessante que se estendeu até o Bar Diagonal, na zona sul do Rio.
Foto by: Camilla Campelo
Já no Leblon, mencionei ao Walter que uma vez minha mãe havia mudado de canal por ter achado uma abertura de novela chata. Entretanto, as dele sempre foram lindas e embaladas por músicas sensacionais. "Sanduíche de coração" do Rádio Táxi, ou "Ao que vai chegar" na voz de Toquinho. E pra finalizar "Companheiro" na voz de Maria Eugênia.
É Negrão, por causa das suas novelas minha mãe não muda de canal. Ela esquece o controle-remoto no sofá e fica estática diante da TV, sempre que um folhetim seu está no ar. A história lá em casa começou com um aparelho em preto e branco, depois veio a televisão colorida. E agora lá está minha mãe, diante de uma LCD, já com saudade de Araguaia.
O tempo passou, mas o seu talento e vocação permaneceram intactos. Isso me faz crer o quanto nos tornamos eternos na vida das pessoas. Chico Xavier, quando te conquistou com seu dom, tinha razão: você também psicografa, mas por amor, e pela arte.
Por: ALEXANDRE NOVASKI